Sempre quando somos confrontados com o falecimento de um ente querido, de um amigo, de um irmão na emunah (fé), somos apresentados como uma ideia que para nós é muito agressiva e causa um choque muito grande. Contudo, se é tão prejudicial, por quê a Torá nos ensina que estar em uma cerimônia com os enlutados é mais proveitoso do que estar em uma festa?. Vejamos:

“É melhor ir a uma casa onde há luto do que a uma casa em festa, pois a morte é o destino de todos; os vivos devem levar isso a sério!” Kohelet 7:2

O ensinamento de Shlomo Ha’Melech está de acordo também com a literatura judaica do Pirkê Avot que diz: “Akavya ben Mahalalel disse: Reflita sobre três coisas e não chegarás ao pecado: Saiba de onde vieste, para onde vais, e perante quem haverás de prestar juízo e contas no futuro. “De onde vieste” – de uma gota decomposta; “e para onde vais” – para um lugar de pó, larvas e vermes; “e perante quem haverás de prestar juízo e contas” – perante o supremo Rei dos reis, o Santo, bendito seja.”

Devemos entender que o judaísmo não é de forma nenhuma niilista, ou seja ele não glorifica a morte e muito menos a celebra, contudo a tradição judaica e a Torá nos ensina que um homem não pode perder nunca que o seu destino é a morte, o próprio Criador anunciou ao homem ao dizer: “O dia em que comerdes deste fruto certamente morrerás”. Temos de entender que D’us não usa palavras impensadas ou lança expressões ao vento como os homens, tudo o que O Criador fala é absolutamente necessário e guardam significados profundos para nós. Ao dizer que o homem “certamente morreria”, ali nesse exato momento foi traçado o destino de todos os homens, que é a morte certa.

Então por quê é importante não perder de vista a morte? A resposta é justamente entregue para nós em Tehillim 103, veja:

“Bendiga Adonai minha alma! Tudo em mim, bendiga seu santo nome! Bendiga Adonai, minha alma, e não se esqueça de nenhum de seus benefícios!”

Nestas palavras sagradas de Tehillim está contida a resposta para nossa reflexão deste artigo, a morte é um constante lembrete para nós do quão privilegiados nós somos de termos existido, literalmente éramos uma unidade em milhões de unidades, já nascemos vencedores pois lutamos contra todas as probabilidades para acharmos nossa casa no óvulo de nossa mãe, por onde aguardamos ansiosamente para nascermos e então existirmos.

Entenda que a vida é um privilégio, ter pessoas, familiares, amigos, cuidar de animais, superar-se, vencer medos e construir a partir do nada uma história é a maior benção do Criador para nós. O maior pecado cometido por um ser humano é menosprezar a vida e banalizá-la, pois este é, segundo o pensamento judaico, a maior dádiva concedida por D’us as suas criaturas.

Portanto, a beleza da vida está justamente no fato de que ela se encerra, contudo não por completo, pois como judeus cremos que quando um homem fecha seus olhos (morre), somente então sua vida começa, pois agora ele pode ascender para O Criador para prestar contas de como conduziu sua vida. Portanto o maior objetivo do pensamento judaico não é jamais glorificar a morte, pois somos o povo que celebra a vida, com dança, sorriso, amor e felicidade, sempre o povo judeu escolheu pela vida e pela esperança em face do medo e da morte, porém nós precisamos aceitar o vazio e a morte, justamente para que possamos valorizar a abundância e a vida.

Convido você caro leitor, a celebrar a vida neste exato momento onde você estiver, não tenha medo ou vergonha, coma uma comida com satisfação, beba com alegria, abrace as pessoas ao seu redor e acima de tudo agradeça a D’us neste exato instante pela oportunidade concedida. Faça um compromisso consigo mesmo de jamais perder a esperança, de construir uma vida mais abundante e feliz que você, não se queixe se receber pouco, lembre-se que quando D’us criou Ele não tinha absolutamente nada. Este é o significado do termo “barah” (criar do absoluto zero), portanto O Eterno não possuía sequer um ajudante quando Ele iniciou todas as coisas. Le’Chayim, viva a vida e que venhamos aceitar nosso destino, para então vivermos com significado e gratidão.

Por: Manhig Yonah Ben Avraham